Porque não utilizar Internet Explorer, Outlook, Messenger e Windows Media?


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Background

Desde os famosos "Halloween documents" vindos a público há uns anos, que se sabe que uma das estratégias principais da Microsoft é diminuir a interoperabilidade do seu software de rede. Interoperabilidade designa a capacidade de dois dispositivos hardware ou software comunicarem entre si. Um dos grandes princípios sobre o qual a Internet assenta é a interoperabilidade ao permitir que hardware e software diferente, correndo em sistemas operativos diferentes possam comunicar entre si, com base em protocolos comuns.

A estratégia da Microsoft para diminuir a interoperabilidade passa pela criação de protocolos proprietários e secretos (ou extender protocolos existentes). O objectivo é simples: retirar capacidade competitiva aos seus concorrentes (de entre os quais, o Linux é o mais temido). Esta estratégia ficaria admiravelmente sintetizada na frase "Embrace, Extend, Exterminate". Isto é, primeiro abraçar uma nova tendência tecnológica, depois criar extensões a essa tecnologia de forma a tornar a versão Microsoft incompatível com as restantes, depois oferecer o software juntamente com o Windows e, como consequência, criar as condições para o estabelecimento de um standard de facto que acaba por exterminar a concorrência.

O abuso de posição dominante da Microsoft ao incluir o Internet Explorer no Windows, foi a primeira demonstração pública da "Embrace, Extend, Exterminate". Mas já antes a Microsoft havia utilizado tácticas abusadoras. Há uns 12 anos atrás, para eliminar o seu rival DR-DOS, a Microsoft colocou mensagens de erro no Windows 3.0 quando um utilizador pretendia instalá-lo sobre o DR-DOS. Mais tarde isto viria a ser levado a tribunal e a Microsoft, percebendo que não conseguiria ganhar a acção e para abafar o caso, indemnizou os accionistas da Caldera, empresa então detentora dos direitos do DR-DOS, numa soma avultada. Mas já era tarde, pois o DR-DOS já se tinha eclipsado e o seu criador, Gary Kildall (criador do CPM e da ROM BIOS), já tinha falecido...

Há receios que a estratégia "Embrace, Extend, Exterminate" possa vir a assumir contornos mais tenebrosos. Leiam, a este respeito, a última crónica do Robert Cringely. Atenção especial deve merecer, também, a lei das patentes de software que, caso seja aprovada na União Europeia, poderá representar uma catástrofe de proporções difíceis de avaliar (Samba e Wine são alvos potenciais).

O que se pode fazer para lutar contra esta estratégia monopolizadora? Várias coisas. A mais simples, e aquela sobre a qual vou falar é evitar ao máximo utilizar software Microsoft de rede. Abordarei os exemplos mais populares:

          • Internet Explorer
          • Outlook
          • Windows Media
          • Messenger

Porquê, prioriatariamente, o software de rede e não outro software Microsoft? Depois de lerem as linhas seguintes, penso que compreenderão a razão.

 

Porque não Internet Explorer?


Sites "optimizados para IE" são sites que correm deficientemente (ou não correm mesmo) em Linux. Praticamente todos os servidores web guardam logs das visitas, logs estes que servem para produzir estatísticas. Nestas estatísticas encontra-se sempre a percentagem de visitantes que utilizaram o browser X, Y, Z, etc. Esta última estatística serve, frequentemente, para os responsáveis pelo site decidirem se "vale a pena ou não a empresa esforçar-se por manter o seu site compatível com o browser Y ou Z". Quando uma empresa pensa no investimento que representa a produção de um site, e do tempo adicional que é necessário investir para tornar um site compatível com browsers não-IE, surge a pergunta "Mas para quê o esforço quando, segundo as estatísticas dos nossos servidores, 95% dos navegantes na Web usam IE?"

Como já devem ter entendido, isto é grave. E os utilizadores de Linux sabem-no bem, à medida que vão notando que cada vez mais sites incorporam funcionalidades disponíveis apenas em Internet Explorer, não se preocupando minimamente com outros browsers, muito menos com standards. Daí que cada "hit" num webserver que se der com um Internet Explorer é mais um hit para as estatísticas da Microsoft e, por conseguinte, maior probabilidade de os sites passarem a ser desenvolvidos sem preocupação com os standards. Mais um site "optimizado para IE" significa mais dificuldades de penetração para o Linux.

O conselho é, pois: em Windows, Macintosh e Solaris, evitem ao máximo utilizar aceder à web utilizando Internet Explorer. Por razoes óvias, não configurem o Konqueror ou o Opera para se identificarem como MSIE, a não ser em último caso (e, mesmo assim, em Konqueror optem por criar excepção específicas para um site ou domínio e não por alterações globais do user-agent).

 

Porque não Outlook?


Se existe uma categoria de software chamada de "anti-vírus", o Outlook deveria pertence à categoria "pró-vírus". Na verdade, a maioria dos vírus actualmente em circulação, são propagados pelo Outlook. Mas não é só. Quando em Outlook se recebe um Email HTML com referências externas, sempre que se consulta o Email, sem o percebermos estamos a dar hits Internet Explorer num servidor Web (porque o browser embebido no Outlook é um controlo Active X do IE). Terceira razão: de browser podemos mudar de um minuto para o outro; mas de cliente de Email é mais difícil. Um cliente de Email é um software que cria hábitos, cria dependências. Se bem que software como o Mozilla/Netscape e Eudora permitam converter as caixas de Email do Outlook, a maioria dos utilizadores receia esta operação (infundadamente, mas receia) e não a faz. Qual é o resultado disto? A taxa de utilização do Outlook é tão elevada que a Microsoft poderá até começar a fazer o seu "extend" dos protocolos SMTP, POP3, IMAP e levar a sua avante. Só não o fez já devido à quota de mercado significativa que o servidor SMTP Sendmail ainda tem.

O conselho é, pois, utilizar os clientes de Mail/News alternativos que existem para Windows: Netscape/Mozilla, Eudora, Agent, etc.

 

Porque não Windows Media?


O Windows Media é um dos mais poderosos cavalos de batalha da Microsoft para conquistar mercado ao Linux a nível de servidores, e impedir que o Linux cresça a nível desktop. E poucas são, ainda, as pessoas que se aperceberam disto. A explicação é a seguinte: o principal concorrente da Microsoft nesta área é a Real Networks. A Real fabrica o famoso Real Player (agora Real One), assim como o Real Server, Real Producer, Streaming Proxy, etc. Apesar do protocolo Real Audio/Video ser proprietário e secreto tal como o Windows Media, a Real faz servidores para Linux, Solaris e outros Unixes. Para além de servidores, a Real mostrou preocupação em fazer, também, clientes para Linux, Solaris, HP-UX e diversos outros Unixes (assim como para Macintosh).Ao oferecer o servidor de streaming media com os seus Windows 2000 Server (e superiores) e ao incluir o Media Player juntamente com todos os Windows, a Microsoft quer cativar as estações de rádio, televisão e sites para trocarem o Real Media, o MP3 e o Quicktime por Windows Media. Os proprietários dos sites ficam seduzidos com a ideia de o servidor de Windows Media ser "grátis" (esquecendo-se, obviamente, que uma licença do Windows 2000 Server custa mais de 1000 Euros) e assim, aos poucos, a Microsoft vai consolidando a sua posição no mercado dos servidores.

Como é óbvio, o objectivo da Microsoft aqui não é ganhar dinheiro com a venda de servidores de streaming media, já que estes são incluídos com as versões servidor do Windows. O mercado do streaming media não é objectivo em si, mas apenas um meio. O objectivo é vender servidores Windows e, ao mesmo tempo, dificultar a eventual posterior migração desses servidores para Linux ou Solaris (simplesmente porque não existem servidores de Windows Media para estes SOs). E é também para dificultar a adopção do Linux no desktop: se um utilizador estiver habituado a escutar rádio com Windows Media, e não o conseguir fazer em Linux, terá mais uma razão para utilizar Windows. E o utilizador leigo vai acabar por culpar o Linux por "nem sequer ter software para ouvir aquela emissão"...

Qual é a atitude que um utilizador Linux consciente deve tomar, então? Obviamente evitar, ao máximo, utilizar Windows Media. E escrever para os sites que disponibilizam conteúdo em Windows Media e que não dão uma alternativa aos utilizadores Linux (por ex., Real Media, MP3, Ogg Vorbis, etc.) a reclamar que não consegue aceder a esse conteúdo e sugerindo que o site disponibilize conteúdo nos formatos suportados em Linux (enumerando aqueles atrás mencionados).

 

Porque não Messenger?

Com o Messenger, a Microsoft está a querer conquistar mercado ao AOL Instant Messenger e ao ICQ. Embora o protocolo do Messenger não seja muito difícil de descodificar, a verdade é que quantos mais utilizadores eles conseguirem fidelizar ao Messenger, mais utilizadores acabarão por conseguir fidelizar ao Windows, ao Hotmail e a outros serviços da empresa.

Numa estratégia em tudo análoga ao que fizeram contra a Netscape, a Microsoft incluiu o Messenger no Windows XP, por omissão. E a forma como o fez foi particularmente descarada: primeiro, aquando da instalação do Windows XP, o utilizador não pode escolher se quer o Messenger ou não; segundo, não dá a possibilidade de o desinstalar posteriormente; terceiro, e para cúmulo, o Messenger é iniciado automaticamente com o Windows! Só num menu obscuro, não desvendável pela maioria dos utilizadoes, é que é possível desactivar o arranque automático do Messenger (mas não desinstalá-lo).

O AOL Instant Messenger e o ICQ são ambos da AOL, empresa que detém o Netscape. Tem-se falado nos planos da AOL para adoptar o Netscape como o seu browser padrão. Estão agora a ver o porquê da cruzada da Microsoft para impingir o Messenger, não estão? E a estratégia está, uma vez mais, a resultar. Contrariando tudo o que se poderia pensar, há muitos utilizadores a mudarem de ICQ para Messenger...

 

Conclusão


Penso que fui suficientemente claro nos argumentos que expus. Como podem ver, não há qualquer "fundamentalismo" aqui. Apenas o reconhecimento de um facto evidente: há uma guerra velada da Microsoft contra o software open-source (mais especificamente aquele com licença GPL) e contra o software proprietário que possa, directa ou indirectamente, ajudar o Linux.

Quis mostrar, também, que a utilização do software Microsoft acima citado não é um acto inócuo. Pelo contrário, utilizar esse software (seja em que sistema operativo for) é estar activamente a prejudicar o open-source. "

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